[Escrevendo No Escuro #05] Conheça o processo de escrita ideal para você
Entre tantas supostas rotinas ideais para executar o planejamento e escrita do seu livro/roteiro, é inevitável questionar-se qual delas seguir. Pois, hoje, você saberá a verdade.
Citação da vez: "A perfeição é como correr atrás do horizonte. Continue andando, ou — no nosso caso — escrevendo." (Neil Gaiman)
Processo criativo não é bula de remédio
Constantemente, somos bombardeados nas redes sociais com vídeos de escritores e roteiristas falando sobre suas rotinas de planejamento e escrita. Alguns, da geração saúde, recomendam um dia a dia que, de tão impecável, beira a disciplina militar. Acorde às seis da manhã, faça exercício físico, coma frutas, deixe todos os seus aparelhos eletrônicos de lado e sente-se no escritório para escrever por horas seguidas, sem interrupção. Os boêmios, em contrapartida, optam pela escrita à base de álcool. Beba um pouquinho para relaxar e deixar a coisa fluir, depois corrija seus textos sóbrio.
Outros, ainda, falam sobre a importância de viajar e ter momentos de ócio em meio à rotina frenética do trabalho e da máquina capitalista — já que, só assim, é possível ter a mente livre para a criatividade. E por último, mas não menos importante, também temos os escritores e roteiristas que enfatizam os recortes sociais de maneira a distinguir as possibilidades de cada autor, diante da realidade em que vivem.
Embora todos eles tenham sua opinião, no entanto, muitas vezes essa visão do que é a execução da escrita vem carregada de uma bagagem pessoal e definida pelo prisma através do qual cada um deles vê o mundo. O fato é que não há uma técnica que sirva para todos os autores, uma rotina ideal, um passo a passo infalível. Mas aqui, caro leitor, quero ir além das diferenças que se dão pelos recortes sociais. O assunto da vez é individualidade.
Cada autor é singular e, portanto, dono de uma essência criativa e organizacional que fazem de si um indivíduo único e livre para exercer sua própria escrita. E é claro que isso também pode ser um fruto do meio e do momento que estamos vivendo. Afinal, a vida é uma montanha russa que está em constante movimento. Pensar que a rotina que nos serve hoje também nos servirá amanhã é ingenuidade.
Há alguns dias, vi um post do autor Jaime Azevedo falando sobre escrita panfletária, no qual ele defende que “não existe escrita neutra, desprovida de ideologia e persuasão". Embora Azevedo se refira, em seu post, às obras dos autores em si, acredito que suas palavras se encaixam perfeitamente em nosso processo de planejamento e execução criativa enquanto indivíduos, basta trocarmos “ideologia” e “persuasão” por “individualidade”.
Ora, se todos temos nossas crenças e opiniões — políticas, sociais e, como não poderia deixar de ser, pessoais —, por que haveríamos de impor à nossa rotina de trabalho algo que diz respeito à individualidade de outros?
É por isso, e somente por isso, que sou absolutamente contra toda e qualquer dica infalível ou passo a passo ideal para escrever rápido e bem. Já fui uma pessoa a dar seus cinquenta centavos de contribuição a esse tipo de asneira. Mas, como não tenho vergonha de pensar, não tenho vergonha de mudar de opinião.
Como ensino escrita de terror a autores e roteiristas sem impor a eles minhas vivências pessoais
Embora seja uma pessoa que muito valoriza a espiritualidade, não tenho religião. Minha mãe possui origem judaica. Já meu pai, médium, foi quem me ensinou desde criança a fé do espiritismo e da umbanda. E como se isso não fosse mistura suficiente, casei-me com uma argentina de família católica que viajou à Índia para aprender sobre o hinduísmo e a filosofia da ioga.
Pois, bem. Minha casa é a própria essência do sincretismo. Aqui temos imagens de orixás e acendamos velas para o caboclo, temos elementos da fé judaica, uma enorme figura de São Jorge à qual rezamos para nos blindar contra a inveja, objetos que se relacionam com o hinduísmo e o budismo, pontos do centro espírita e, até mesmo, pedras da wicca.
Ok, Fernanda, mas o que isso tem a ver com suas aulas de escrita?
A resposta é simples, caro leitor. Reúno todas essas crenças em mim sem seguir a doutrina de nenhuma religião, pois acredito que a fé não pode ser limitada ao que dizem que devemos ou não fazer. Cada uma dessas religiões colabora para que eu seja uma pessoa melhor, com boas intenções, leal à minha família e consciente de que o mundo é plural e vai muito além do meu umbigo. Suas doutrinas, contudo, de nada me servem. Por isso, pego das religiões apenas aquilo me faz bem e ignoro o resto.
É exatamente esse filtro que proponho a meus alunos, tanto em O DRAMA É DARK, quanto nas palestras e masterclasses que dou a convite de centros culturais, clubes de leitura e escolas criativas. Há infinitas estratégias, teorias e conceitos que se aplicam à escrita de terror. Em minhas aulas, reúno algumas das que me parecem mais relevantes e diversas — muitas delas, aliás, opõe-se umas às outras — para que meus alunos escolham quais lhes servirão para o livro ou roteiro que planejam escrever. Não existe certo ou errado. Existe apenas aquilo que faz com que cada um desses escritores e roteiristas escreva melhor, à sua maneira.
No fim das contas, as únicas duas regras das quais você não pode fugir é:
Leia muitos livros e assista a muitos filmes de terror. Quando possível, consuma obras de outros gêneros também, como drama e suspense. Ampliar o repertório é sempre bom;
Escreva o máximo que puder, sem medo de errar ou de criar algo que não seja do seu total agrado. Quando mais você escrever, melhor se tornará sua escrita. A perfeição, tal qual disse Neil Gaiman, é como correr atrás do horizonte.
Notas de rodapé da vez:
As inscrições para participar da segunda turma de O DRAMA É DARK — meu curso teórico-prático de construção narrativa de terror — continuam abertas, mas 50% das vagas já foram preenchidas. Se quiser aprender estratégias que te farão escrever mais e melhor à sua maneira e participar da antologia de contos que será publicada após o curso, inscreva-se aqui antes que a turma lote.
A coletânea de contos LGBTerror (Editora Diário Macabro), da qual faço parte, será lançada no dia 01/06, sábado, na PocCon, em São Paulo. E eu estarei lá! Garanta seu exemplar com desconto utilizando o cupom FERNANDA5, até dia 31/05. E se estiver por São Paulo na data do lançamento, passe no evento para ganhar um autógrafo e um abraço.
Dia 03/06, darei uma masterclass no Projeto Marieta sobre a hierarquia de emoções em narrativas de terror. Se ainda não se inscreveu, inscreva-se aqui.
Novidade boa para você que gosta do que eu escrevo
Programei uma rotina de escrita — como não poderia deixar de ser, à minha maneira — que aplicarei à produção desta newsletter. A partir de hoje, as pessoas inscritas em Escrevendo No Escuro receberão uma nova edição quinzenalmente, sempre às quartas-feiras.
Abri, ainda, um plano de assinatura pago (no valor mais baixo permitido pela plataforma). As pessoas que se inscreverem no plano de assinatura pago, além dos textos quinzenais, também receberão textos semanais com conteúdos exclusivos e terão descontos nos meus serviços de leitura crítica e consultoria de escrita.
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Gostou do que eu faço? Então, mande freelas!
Trabalho com escrita literária de ficção e roteiro audiovisual — em ambos casos, me dedico a desenvolver narrativas de terror, suspense e dramas sombrios.
Também dou palestras sobre construção narrativa e ministro aulas de escrita criativa voltadas exclusivamente ao terror.
E por último, mas não menos importante, sou leitora crítica e consultora de narrativas de terror, trabalhando diretamente com escritores e roteiristas que desejam avançar com um livro ou filme e não sabem como.
Para marcar uma reunião ou solicitar um orçamento, basta me escrever: contato@fernandachazan.com
PS: escritores unidos jamais flopparão
Esta edição de Escrevendo No Escuro faz parte do Newsletteraço 2024, uma ação de escritores do Substack que estão relançando/repaginando/iniciando suas newsletters ou simplesmente participando dessa iniciativa coletiva que visa divulgar o trabalho de todos. Conheça aqui todas as newsletters participantes da ação.
Também tem aqueles que falam para sentar a bunda na cadeira e escrever haha.