[Escrevendo No Escuro #03] Terror também é solidariedade
Hoje o assunto é curto e direto: como nós, escritores e roteiristas de terror, podemos ajudar as pessoas atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul?
Citação da vez: "He who forgets will be destined to remember." (Pearl Jam)
Desastre no Rio Grande do Sul, caos no mundo e nós no meio de tudo isso
O tempo todo há pessoas sofrendo por guerras, genocídios e desastres ambientais (os quais sabemos que, muitas vezes, são causados pelo próprio ser humano). Sem falar na violência individual e coletiva que se dá por assassinato, tortura, preconceito, abuso e assédio físico e psicológico. É um fato, é a realidade. O mundo é um lugar sombrio e caótico, e nós somos parte disso.
Fico pensando cá comigo, entretanto, por que algumas tragédias nos afetam mais que outras. Sem apontar dedos aos coleguinhas e fazendo mea culpa, vou falar de mim mesma.
Não me leve é mal, é óbvio que nenhum desastre ou violência deve ser esquecido ou deixado de lado. Disse e repito: o mundo é um lugar sombrio e caótico. Do oriente ao ocidente, do norte ao sul. Em todos os lugares, há gente sofrendo. Mas, às vezes, quando o sofrimento acontece perto da gente, bate uma conexão emocional e esse tal sofrimento se potencializa dentro de nós.
Lembro que os desastres ambientais na Bahia, no litoral paulista e em Petrópolis me pegaram do mesmo jeito. Os ataques e invasões às diversas comunidades indígenas que sofrem constante violência no Brasil, também. Acho que isso acontece por ter pessoas queridas envolvidas nesses lugares e comunidades, ou pessoas próximas de mim que sofrem por amigos e familiares que estiveram e estão sob essas situações.
É como se quando a gente visse/sentisse a dor e a violência de perto, ela fosse mais dolorosa e violenta, extendendo-se à nossa própria existência. E de dor e violência, convenhamos, o terror está cheio.
Há alguns meses, gravei este vídeo no Instagram, falando sobre por que escrever narrativas de terror. Considero a escrita deste gênero um lugar de exorcismo, onde podemos de fato vomitar nossos medos e a violência que nos é imposta individual ou coletivamente. Isso é o que fazem, de maneira escancarada, os autores de terror social. Também é o que, contudo, podemos fazer todos nós, se tivermos suficiente coragem.
Ontem, conversei com uma aluna da primeira edição de O Drama É Dark, a qual é gaúcha e — como não poderia deixar de ser — está transtornada pelo desastre no Rio Grande do Sul. Durante a conversa, ela comentou sobre o terror que é viver o que está vivendo, presenciar o que está presenciando, sentir o que está sentindo. E, no desabafo, ainda me disse que tem diversas histórias rascunhadas, mas não consegue avançar na escrita de nenhuma delas. Meu conselho foi: escreva sobre o terror no qual você está inserida e exorcize seu pânico através da literatura. Esse exorcismo não resolve os problemas de fora, mas, de verdade, ajuda a curar as feridas de dentro.
Maneiras de ser um escritor e roteirista solidário com a dor dos gaúchos
Vou listar aqui duas iniciativas das quais faço parte para que você, dentro da sua escrita e amor pelo terror, possa apoiar quem precisa de toda a ajuda possível neste momento.
Em parceria com o núcleo do Writer's Room 51 (formado pelo Guilherme Zanella e a Jéssica Gonzatto), darei um aulão solidário online sobre construção de personagens femininas complexas no terror. Para participar, basta doar R$ 25,00 ou mais a qualquer uma das entidades listadas na legenda deste post e seguir o passo a passo de inscrição, o qual consta na mesma publicação. As vagas são limitadas. Corra para garantir a sua, ajudando as pessoas e animais atingidos pelas enchentes no RS.
Em parceria com a Cartola Editora, a Poison Books está arrecadando doações às vítimas das enchentes. Neste sábado, dia 11/05, estarei na Poison Books para dar uma aula gratuita sobre a hierarquia de emoções em narrativas de terror, através de uma sessão comentada do filme O Exorcista, e receberei com a Carol Mancini e a Meg Mendes (donas da livraria) todas as doações dos alunos e visitantes. Saiba o que você pode levar para doação aqui.
Bônus: há inúmeros escritores e artistas promovendo ações semelhantes para arrecadar doações aos gaúchos. Fique de olho nos grupos do WhatsApp e nas redes sociais e ajude como puder — seja doando ou divulgando a quem você sabe que pode doar.
Terror é solidariedade. E, juntos, somos mais fortes.
Aos leitores da minha newsletter que são do RS ou moram no estado, fica aqui meu enorme abraço. Que vocês fiquem bem.